sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Lembranças da Madrugada

O Grande Prêmio do Japão traz muitas recordações para o torcedor brasileiro. A pista de Suzuka marcou os três títulos de Senna e o último dos três campeonatos de Nelson Piquet – que passeou domingo como campeão após a cagada de Mansell nos treinos.

 Foram cinco edições consecutivas decidindo a glória entre os grandes: 87, com Piquet e Mansell; 88, 89 e 90, com Senna e Prost; 1991 foi a vez do duelo entre Senna e Mansell.

Naquele tempo, criança tinha horário pra dormir. Eu precisava convencer meus pais que tinha que ver a corrida e F1 não tinha a importância e a tradição que tem hoje. Não tínhamos vídeo-cassete – ninguém na rua tinha. Não dava pra matar a satisfação com aqueles ridículos compactos que a Globo exibia depois do Som Brasil – com Lima Duarte, “viva o povo brasileiro”. Anos difíceis, torcedor! Hoje, é tudo mais fácil. A mulambadinha que nem bem trocou as fraldas já pode chegar a casa depois das 2 da manhã no domingo que tá tudo certo. Ver TV então? A qualquer hora. Não existe mais aquela “preparação” que tornava a corrida de horário "exótico" para os padrões brasileiros ainda mais especial. Agora o sujeito fica na internet até a hora da prova ou enchendo a caveira na rua onde tenha um telão que vai transmitir a prova. 

Outros tempos. A graça não é a mesma. Principalmente quando o assunto é o torcedor brasileiro e seus bravos compatriotas. Mais uma vez, cabe a coadjuvação esperada aos intrépidos volantes da Terra de Vera Cruz.

De todas essas decisões, aquele menino – um futuro herói japonês infiltrado na pobreza da vida comum de um Brasil de inflações imorais –deixou de assistir uma: exatamente aquela que daria ao Senna sua última conquista. Não pude assistir por não estar em casa. No interior, o povo dormia cedo e não havia a menor possibilidade de meus tios concordarem em me deixar ver a corrida de madrugada. Naquele tempo – acabo de ver o bolo de feno passar na minha frente; deserto de lembranças empoeiradas – TV de madrugada era sinônimo de “filme de sacanagem”. Então, criança na cama! Hoje, a sacanagem não tem hora nem lugar. Tem na Tv, na net, em Brasília, no Rio, em SP...e por aí.

Não vou negar que é mais fácil acompanhar F1 hoje por conta da tecnologia. Não bebo das águas da amargura saudosista sem propósitos. Mas que me perdoem os que não viveram aqueles tempos: nem de longe “a corrida da madrugada” tem hoje o mesmo significado, o mesmo clima e a mesma importância pra quem já viu aquilo tudo. Sem contar o fato de termos corrida de madrugada desde o início da temporada por conta das idiossincrasias contratuais de Berne Sombrio.

Mas vamos que vamos! Fã de F1 passa por tudo isso e segue em frente. Só peço a Deus que tenhamos uma corrida que nos faça valer a pena. Porque quando o troço é chato, não importa o horário: sempre será tempo perdido.

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